“Quem der apenas um copo de água fresca a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá sua recompensa.” (Mt 10,42)

O evangelista Mateus é um escriba cristão muito instruído; ele conhece profundamente as promessas do Deus de Israel e, para ele, as palavras e ações de Jesus são o cumprimento dessas promessas. Por isso, no seu Evangelho ele apresenta Jesus como novo Moisés, e o Seu ensinamento na forma de cinco grandes “discursos”.

Esta Palavra de Vida conclui o “discurso missionário”, que começa com a escolha dos doze apóstolos e indica as exigências do anúncio do Reino. Isso porque as incompreensões e as perseguições que eles vão encontrar exigem um testemunho dado com credibilidade, também por meio de escolhas radicais.

Mas existe algo a mais: Jesus revela que o envio dos discípulos tem as suas raízes na missão que Ele mesmo recebeu do Pai. No Antigo Testamento já havia uma convicção muito clara de que no mensageiro de Deus é o próprio Deus que se faz presente, que se compromete. Portanto, é o próprio amor de Deus que chega, por efeito cascata, a cada pessoa através do testemunho de Jesus e daqueles que Jesus envia.

“Quem der apenas um copo de água fresca a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá sua recompensa.”

Além da missão específica de alguns – dos apóstolos, dos pastores, dos profetas…–, Jesus anuncia que todo cristão pode ser seu discípulo, ser ao mesmo tempo destinatário e portador da missão. E todos nós, como discípulos, mesmo que sejamos “pequenos”, aparentemente sem qualidades ou títulos especiais, estamos habilitados a dar testemunho da proximidade de Deus: é toda a comunidade cristã que é enviada à humanidade pelo Pai de todos.

Todos nós recebemos de Deus atenção, cuidados, perdão, confiança, por meio de nossos irmãos; também nós podemos dar algo aos outros, para fazê-los experimentar a ternura do Pai, como fez Jesus durante a sua missão. É nesta raiz, no Pai, que está a garantia de que as assim chamadas “pequenas coisas” podem mudar o mundo. Mesmo quando se trata apenas de um copo de água fresca.

“Não importa se podemos dar muito ou pouco. O importante é ‘como’ doamos, quanto amor colocamos até mesmo num pequeno gesto de atenção para com o outro. Às vezes basta oferecer-lhe um copo de água, um copo de água fresca, […] um gesto simples, porém grande aos olhos de Deus, quando feito em Seu nome, ou seja, por amor. […] A Palavra de Vida deste mês poderá ajudar-nos a redescobrir o valor de cada ação nossa: desde as tarefas de casa, da roça, da oficina, até às práticas do escritório, às tarefas escolares, bem como às responsabilidades no campo civil, político e religioso. Tudo pode se transformar em serviço atento e solícito. O amor nos dará uma visão nova das coisas, para intuir aquilo de que os outros estão precisando e para ajudá-los com criatividade e generosidade. O resultado disso? Os dons circularão, porque o amor chama amor. A alegria se multiplicará, pois ‘há mais felicidade em dar, do que em receber’¹”².

“Quem der apenas um copo de água fresca a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá sua recompensa.”

O que Jesus nos pede é muito exigente: não interromper o fluir do amor de Deus. Ele nos pede que nos aproximemos de cada homem e cada mulher com o coração aberto e servindo-o concretamente, superando nossas categorias mentais e nossos julgamentos.

Ele quer a nossa colaboração ativa, criativa e responsável para o bem comum, começando pelas pequenas coisas de cada dia. Mas ao mesmo tempo não deixará de nos recompensar: estará sempre ao nosso lado, para cuidar de nós e nos acompanhar na missão.

“[…] Deixei meu emprego nas Filipinas e fui à Austrália para ficar com minha família […]. Arranjei emprego numa construtora como responsável pela limpeza dos refeitórios, dos vestiários, dos escritórios e da cantina, usados por mais de 500 funcionários. Um trabalho completamente diferente daquele que eu tinha antes, como engenheiro. […] Por amor aos outros, eu me certifico de que os refeitórios estejam sempre limpos e arrumados. Mesmo assim, vi certas pessoas que não ligavam para a limpeza […]. Não perdi a paciência porque isso, para mim, era uma oportunidade de amar Jesus em cada pessoa que eu encontrava. Aos poucos, essas pessoas começaram a limpar as próprias mesas depois de almoçarem e, com o tempo, ficamos amigos e fui ganhando a confiança e o respeito delas. […] Experimentei que o amor contagia e tudo o que é feito por amor permanece”.

PELLEGRINI, S., SALERNO, G., CAPORALI, M. (org.). Famiglie in azione – Un mosaico di vita. Roma: Città Nuova 2022, p. 55.

Letizia Magri


1) At 20,35.
2)
LUBICH, Chiara. Uma cultura nova, Palavra de Vida, outubro de 2006.

Fonte: Movimento dos Focolares