“Tu és Deus que me vê.” (Gn 16,13)
O versículo da Palavra da Vida deste mês é tirado do livro do Gênesis. As palavras são ditas por Agar, escrava de Sarai. Uma vez que Sarai não podia ter filhos, ela fez seu esposo Abraão se unir a Agar para garantir uma descendência. Mas, quando Agar descobriu que estava grávida, sentiu-se superior à sua senhora. Então Sarai humilhou-a tanto que ela se viu obrigada a fugir para o deserto. E é precisamente aí que se dá um encontro único entre Deus e essa mulher, que recebe uma promessa de descendência semelhante àquela que Deus fez a Abraão. O filho que dela nascerá será chamado Ismael, que significa “Deus ouviu”, porque Ele acolheu a angústia de Agar e lhe deu uma estirpe.
“Tu és Deus que me vê.”
A reação de Agar reflete a ideia, muito comum no mundo antigo, de que os seres humanos não podem resistir a um encontro próximo demais com o divino. Agar fica surpresa e grata por ter sobrevivido. Ela experimenta o amor de Deus justamente no deserto, o lugar privilegiado onde se pode experimentar um encontro pessoal com Ele. Agar sente a Sua presença e se sente amada por um Deus que a “viu” nessa sua situação dolorosa, um Deus que se preocupa e envolve de amor as suas criaturas.
“Ele não é um Deus ausente, distante, indiferente aos destinos da humanidade, ao destino de cada um de nós. Muitas vezes nós constatamos isso. […] Ele está aqui comigo, está sempre comigo, conhece tudo de mim e compartilha cada pensamento meu, cada alegria, cada desejo; carrega comigo cada preocupação, cada provação da minha vida.”
LUBICH, C., Palavra de Vida, julho de 2006.
“Tu és Deus que me vê.”
Esta Palavra de Vida reaviva uma certeza e nos conforta: nunca estamos sozinhos em nosso caminho, Deus está aí e nos ama. Às vezes, como Agar, nos sentimos “estrangeiros” nesta terra, ou procuramos maneiras de escapar de situações pesadas e dolorosas. Mas devemos ter a certeza da presença de Deus e da nossa relação com Ele que nos torna livres, nos tranquiliza e nos permite sempre recomeçar.
Essa foi a experiência de Paula [nome fictício] que viveu sozinha o período da pandemia. Ela diz: “Desde o início do fechamento total de todas as atividades em nosso país, estou sozinha em casa. Não tenho fisicamente ao meu lado ninguém com quem possa partilhar essa experiência e procuro ocupar o dia do jeito que posso. Com o passar dos dias, porém, fico cada vez mais desanimada. À noite, tenho muita dificuldade em adormecer. Fico com a impressão de que não consigo mais sair desse pesadelo. No entanto, também sinto fortemente que devo confiar-me completamente a Deus e acreditar em seu amor. Não duvido de sua presença que me acompanha e me conforta nesses meses de solidão. Pequenos sinais que me chegam dos irmãos me dão a entender que não estou sozinha. Como aquela vez em que, comemorando online o aniversário de uma amiga, recebi logo em seguida uma fatia de bolo da minha vizinha de casa”.
“Tu és Deus que me vê.”
Então, protegidos pela presença de Deus, também nós podemos ser mensageiros do seu amor. De fato, somos chamados a ver as necessidades dos outros, a socorrer nossos irmãos nos seus desertos, a compartilhar suas alegrias e suas tristezas. O esforço é manter os olhos abertos para a humanidade na qual também nós estamos imersos.
Podemos nos deter um momento e marcar presença junto àqueles que procuram um sentido e uma resposta aos muitos porquês da vida: amigos, familiares, conhecidos, vizinhos de casa, colegas de trabalho, pessoas em dificuldades econômicas e, quem sabe, socialmente marginalizadas.
Podemos recordar e partilhar aqueles momentos preciosos em que encontramos o amor de Deus e redescobrimos o sentido da nossa vida.
Podemos enfrentar juntos as dificuldades e, nos desertos que atravessamos, descobrir em nossa história a presença de Deus, que nos ajuda a seguir confiantes no nosso caminho.
Patrizia Mazzola
Fonte: Movimento dos Foculares