Membros da Fazenda da Esperança acompanharam, nesta sexta-feira (29/09), a audiência com o Santo Padre, Papa Francisco, que marca as celebrações dos 40 anos da comunidade terapêutica, no Vaticano. O encontro aconteceu no Pátio San Damaso, dentro do Palácio Apostólico, com cerca de 1,2 mil participantes, entre eles os fundadores da Fazenda, membros da presidência, padres, consagrados, religiosos, voluntários e vários ex-acolhidos.
A peregrinação a Roma iniciou na última segunda-feira, com visita à basílicas e locais importantes e que representam o berço do Carisma da Esperança, como a Basílica de São Francisco de Assis, em Assis.
A cerimônia foi aberta com a fala do Presidente da Fazenda da Esperança, Padre Luiz Menezes. Na sequência, três testemunhos antecederam a fala do Santo Padre, entre elas a do Carlos Roberto da Silva (conhecido por Beto), um dos primeiros acolhidos da Fazenda da Esperança, a argentina Analía Rodriguez e o casal Ildo e Iraci Foppa, que estão juntos há 43 anos, natural da região Sul do Brasil e que, agora, vivem em missão em Moçambique na África.
Leia a mensagem do Santo Padre na íntegra:
Caros irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
Agradeço-lhes de coração da sua visita. Este ano, vocês celebram os 40 anos, com alegria e gratidão, desde que recebeu seu Carisma específico de apresentar o Senhor ressuscitado, origem e fim de nossa Esperança, a quantos precisam dele. E tão belo é este Carisma, o Carisma da Esperança!
Vocês nunca devem abandonar essa sua vocação, a Esperança, a mais humilde das virtudes teológicas, mas a mais cotidiana, a mais forte. No evangelho de Mateus, Jesus se apresenta à nós do seguinte modo: “Eu estava com fome e me destes de comer, eu estava com sede e me destes de beber. Eu era forasteiro e me recebestes em casa. Estava nu e me vestistes. Doente cuidastes de mim. Na prisão e fostes visitar-me”.
Com essas palavras, o Senhor se identifica com nossos irmãos e irmãs mais pobres, mais necessitados e mais sofredores.
Há quarenta anos, o Carisma de vocês nasceu do pedido de ajuda de um jovem que queria se libertar da dependência das drogas. Nele – e todos aqueles que vieram depois dele – vocês reconheceram a Cristo, que lhes dizia: eu era escravo das drogas e vocês me acolheram para me dar, novamente, a Esperança e me fazer entender que uma nova vida é possível.
O chamado que Deus lhes faz para levar a Esperança àqueles que, talvez, não tenham mais sentido em suas vidas, é um chamado para amá-lo, incondicionalmente, nas pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social.
Um dos grandes problemas do mundo de hoje é a indiferença. A sedução da indiferença, como mencionei na encíclica “Fratelli tutti”. Vocês, contudo, não ficaram indiferentes a dor que viram no rosto de tantos jovens, afligidos por grandes sofrimentos existenciais, especialmente no rosto daqueles cujas vidas estavam destruídas pelas drogas e outros vícios.
Vocês se tornaram próximos, e mais: irmãos de tantas pessoas que recolheram pelas ruas e, como na parábola do bom samaritano, as acompanharam para curá-las, trata-las e ajudá-las a encontrar sua dignidade.
Vocês sabem muito bem que levar a Esperança não significa apenas ajudar a superar vícios, a suplantar traumas e encontrar seu lugar na família e na sociedade. Lembramos das palavras do Papa Bento XVI, quando os visitou em Guaratinguetá, em 2007: “A reinserção na sociedade constitui, sem dúvida, uma prova da eficácia da iniciativa de vocês”.
Mas o que mais chama a atenção e confirma a validade do trabalho são as conversões, o encontro com Deus e a participação ativa na vida da Igreja. O Carisma de Esperança, como um dom suscitado no meio de vocês pelo Espírito Santo, leva-os a cuidar das pessoas em sua integridade material e espiritual, corpo e alma.
Esse Carisma foi confiado a todos vocês. Os fundadores foram instrumentos providenciais para que esse dom tomasse forma, se consolidasse, encontrasse o seu lugar na igreja e alcançasse a tantas pessoas.
Depois de 40 anos, na fidelidade à inspiração original, novas pessoas são chamadas a assumir a responsabilidade de preservar e fazer frutificar esse patrimônio espiritual que o Senhor lhes confiou.
Não é preciso ter medo dessa nova fase. Vivam na humildade, com confiança e preservando a comunhão espiritual entre vocês. Assim começou, vocês que começaram este caminho, o Senhor que começou vai estar sempre entre vocês.
Sou grato a Deus e a vocês pelo testemunho que dão nas diversas obras de sua associação, como as “Fazendas da Esperança”, espalhadas por todo o território brasileiro desde 1998, presentes também em outros países.
Também reconheço, com muita gratidão, o trabalho que vocês realizam com padres, seminaristas, religiosos e religiosas, ajudando-os a superar os desafios e problemas psicológicos que afetam algumas pessoas consagradas a Deus.
Continuem com este belo trabalho, que é tão necessário para a Igreja. Caros amigos, desejo-lhes todo o bem em sua jornada pelo caminho da Esperança. Que a Virgem Maria os acompanhe. Abençoo, de coração, a grande família e a missão de vocês. E peço-lhes que rezem por mim. Obrigado!