Ser pai é ser o porto seguro de outra pessoa e encontrar, no filho, um motivo para levantar todos os dias e construir um mundo melhor. Agora, imagine ser pai de dez e ter todo esse sentimento multiplicado? Assim é com o mecânico Arley Lage de Oliveira, natural de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, e acolhido do Centro Masculino da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá (SP). Ele, que está prestes a concluir sua caminhada de recuperação, relata o que sonha para os filhos e como a relação com sua família foi transformada na Fazenda da Esperança.
Para este domingo dos pais, o acolhido receberá a visita do seu pai e dos filhos, um momento que, na expectativa dele, será marcado pela emoção e pelo perdão. “A primeira coisa que vou fazer é chorar bastante. Vai ser uma alegria poder passar o dia com eles aqui, com meu pai, meus filhos”, disse Arley, que também é responsável pela cozinha do Centro Masculino.
Ele conta que a cozinha une a família e lembra de quando cozinhava para os filhos. No fogão a lenha, o prato preferido das crianças era frango, angu e macarrão – momento que ele pretende reviver assim que concluir o ano de recuperação.
Quando entrou na Fazenda da Esperança pela primeira vez, em 2021, Arley já era pai de nove filhos e sua esposa estava grávida. Ao abandonar a recuperação da dependência, no décimo mês de caminhada, teve uma recaída e, motivado pelo amor aos dez filhos, retornou à fazenda para iniciar o tratamento novamente. Recentemente, o acolhido soube pelo seu padrinho no Centro Masculino que seria avô da Cecília, a primeira neta. Quando ela nascer, Arley já terá concluído sua caminhada.
Atualmente, quase concluindo seu ano de recuperação, Arley conta que tem se sentido motivado pelo reconhecimento, não só dos filhos e da família, mas de toda a sociedade quando o vê trabalhando. “Quando eles vêm, conversam muito comigo. Minha filha Bianca veio aqui e disse ‘eu quero o meu pai, aquele pai que era antes. A gente está lá esperando por você’ e isso foi me motivando cada vez mais. Eles querem me ver bem”, relata.
Porém, até chegar neste momento, muitas lutas foram superadas, principalmente em relação à distância dos filhos no início. “O Heitor era mais apegado a mim, ele só dormia comigo. O começo da caminhada foi o pior momento, porque eu deitava e não tinha eles ali, acordava com um puxão na orelha e outro falando no ouvido e isso fui perdendo. Eu chovava todos os dias até eu entender que estava buscando minha recuperação para quando sair ter essa alegria de novo”, conta.
Na Fazenda da Esperança começou a se sentir em família e, aos poucos, à Luz da Palavra de Deus, foi capaz de perdoar e reconquistar o perdão de seus familiares. Arley relata que, atualmente, o seu maior sonho é reunir todos os dez filhos. “Quero todos os meus filhos mais perto de mim, que entendem que eu sou o pai deles, que eu busquei minha recuperação para cuidar deles”, contou.
Arley quer fazer diferente do pai, que o abandonou aos dez anos. Mesmo com todas as dificuldades, o acolhido trabalha na Fazenda da Esperança o ato de perdão e quer se livrar de toda a mágoa que ainda existe na relação entre pai e filho. Hoje, durante a recuperação, ele se apega aos atos que dão orgulho, como o respeito aos filhos. “Aprendi a respeitar os meus filhos com o meu pai. Aqui eu aprendi que conversar com o filho quando é pequeno faz muita diferença. Não preciso gritar ou aumentar o tom”.
“A gente acha que vem para se tratar das drogas, mas trabalha o caráter, a unidade. Como coordenador da cozinha, tenho uma responsabilidade a mais. Aqui temos que lidar com os problemas dos outros meninos. O que aprendo aqui vou levar para fora para saber lidar com as situações que vou enfrentar”.